Sujeitos transitivos indefinidos

Sou jornalista. O ponto talvez seja precipitado: ser jornalista não é dizer tudo e a frase precisa de complemento. Talvez, então, eu seja um objeto indireto. Sou jornalista e gosto de escrever. O que busco? Melhorar meu texto, o texto de dentro, que é quem eu sou e os textos que escrevo, que fazem parte de mim. Como diria Clarice Lispector, o que escrevo já está, de certa forma, escrito em mim.

Se eu pudesse, viveria para a literatura e de literatura, mas não posso. Afinal quem é que pode dizer, ainda novo, que sua profissão é escritor? Acredito que ninguém. A profissão escritor também precisa de complemento, escritor e professor, escritor e jornalista. Até Drummond, com sua quase incontestada genialidade lírica, tinha complemento: escritor e funcionário público.

Concluo, e aí posso precipitar-me novamente, que o verbo escrever é transitivo, ora direto, ora indireto. E que todo escritor é um objeto indefinido, já que ora é direto, ora indireto. A indefinição é que faz a escrita.



25 de julho - Dia Nacional do Escritor
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