Deixar pra trás sais e minerais- Evaporar - Little Joy

Não desejo encontrar alguém que me complete, é pouco, mas que me transborde, até o final cansar e ser só início.

Fabrício Carpinejar


Que esqueceu os sonhos da última noite em que dormiu sem sofrer. Que se perderam os sonhos que tinha quando ainda sonhava acordada. Que já não crê naquele amor conto de fadas. Do olhar que desconcerta, do abraço que protege, da metade que faltava. Que já não sente que falta algo. Sente-se completa. Do corpo, da alma, da mente. Que não espera telefonemas durante o dia, que não espera textos lindos no email, que não espera nenhuma mentira fantasiada de verdade. Que não espera sempre uma verdade feia, nem tudo que existe, existe entre o limite feio-bonito, verdade-mentira. Que não espera alguém que a complete. Espera quem a transborde. Que isso será difícil. Pois em seu peito foram feitos buracos profundos, abismos, onde devem ter se perdido os sonhos do início. Que não se pode ouvir o barulho da gota cair quando chove no peito, a gota parece nunca encontrar a superfície, como se ficasse caindo, caindo, caindo...

Nem tudo que cai encontra o chão para se apoiar. Nem todos os ombros são amigos. Nem todos os amigos desejam dar só os ombros para consolo. Que secaria no vento frio a lágrima que escorria em seu rosto, por dentro, porque ninguém via. Já não se permitia externar emoções. Andava sempre caminhando com o mesmo rosto. Com o mesmo sorriso, meio falso, meio divertido.

Que transborde não em pranto, mas em riso. Não em cinza, mas todo colorido. Que transborde não em fuga por medo, mas em entrega por desejo. Que transborde não em versos melancólicos de saudade, mas em melodia folk do violão tocado a quatro mãos. Que transborde não em tardes desperdiçadas em brigas, mas em noites passadas suspirando, assoviando, nossa canção – inédita.

Que transborde não em ilusões nunca alcançáveis, que transborde não em gritos, mas no amor silencioso. Que transborde ele e ela em ações, não em palavras. Que transborde para não haver dúvidas de que o que passou não era o rio do amor, era poça, poça da água da chuva – e evaporou.

Luana Gabriela
23/03/2010
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