[ but my love is all i have to give ]

O que te posso dar é mais que tudo o que perdi: dou-te os meus ganhos. A maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria, busca te agradar quando antigamente quereria apenas ser amada. Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora: esses dourados anos me ensinaram a amar melhor, com mais paciência e não menos ardor, a entender-te se precisas, a aguardar-te quando vais, a dar-te regaço de amante e colo de amiga, e sobretudo força — que vem do aprendizado. Isso posso te dar: um mar antigo e confiável cujas marés — mesmo se fogem — retornam, cujas correntes ocultas não levam destroços mas o sonho interminável das sereias. Lya Luft

[ dois ou três almoços. uns silêncios ]

Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro. Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas. Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia. Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome. Caio Fernando Abreu

[ reorganizando trechos ]

— Tá fresquinho — ela serviu o café. — Agora só consigo dormir depois de tomar café. —A senhora não devia. Café tira o sono. Ela sacudiu os ombros: — Dane-se. Comigo sempre foi tudo ao contrário. ... — Linda — sussurrou. — Linda, você é tão linda, Linda. (C.F.A)

[ e quem pode resistir? ]

— Sonhei com essa mulher que sonha — disse. — Sonhei que ela estava sonhando comigo disse ele. Também ela acabava de despertar da sesta. — Sonhei com o poeta — nos disse. Assombrado, pedi que me contasse o sonho. — Sonhei que ele estava sonhando comigo disse, e minha cara de assombro a espantou. — O que você quer? Às vezes, entre tantos sonhos, infiltra-se algum que não tem nada a ver com a vida real. ... Ele me falou dela com um grande entusiasmo e uma enorme admiração. "O senhor não imagina como ela era extraordinária", me disse. "O senhor não resistiria à tentação de escrever um conto sobre ela". Gabriel García Márquez - Me alugo para sonhar

[ i had a dream tonight ]

E ela disse: "Preciso encontrar o homem que me diz isso nos sonhos". "Tento me lembrar todos os dias da frase com que preciso encontrar você", disse. E eu: "Agora creio que amanhã não a esquecerei. Mas sempre esqueço ao acordar quais são as palavras com que posso encontrar você". E ela disse: "Você mesmo as inventou desde o primeiro dia". E eu lhe disse: "Inventei-as porque vi seus olhos cor de cinza. Mas nunca me lembro delas na manhã seguinte." E ela, com os punhos fechados junto ao abajur, respirou fundo: "Se pelo menos pudesse recordar agora em que cidade estive escrevendo isso". Seus dentes apertados resplandeceram sobre a chama. "Eu gostaria de tocar em você agora", disse. "Você nunca me tinha dito isso", disse. "Agora digo, e é verdade", disse. Disse ainda: "Não sei por quê, não posso lembrar onde o escrevi". E eu lhe disse: "Pela mesma razão pela qual eu não poderei lembrar as palavras amanhã". E ela disse, triste: "Não. É que às vezes creio que também sonhei isso". Olhos de Cão Azul - Gabriel García Márquez

[ confiar, desconfiando ]

Desconfio para confiar. Desconfio de quem ri demais. Desconfio de quem ri de menos. Ninguém consegue ser tão constante no riso, ou na falta dele, estando vivo. Desconfio de quem trabalha de mais, deve estar se escondendo de algo. Desconfio de quem trabalha de menos, não deve confiar no futuro. Desconfio de quem ama demais aos outros, não há amor dentro de si , somente fora. Desconfio de quem ama de menos, deve sobrar amor por dentro, e medo de trazê-lo para fora.Desconfio para confiar. Desconfio dos olhares, das mãos, das certezas, das dúvidas. Desconfio do dia que amanhece quente, em Curitiba, é chuva certa à noite. Desconfio de quem me liga só para saber como estou, deve querer saber como, onde e com quem estou. Desconfio de quem não liga nem para saber como estou. Desconfio da mãe que nunca pergunta onde vai, desconfio quando pergunta onde vai. Amar é desconfiar. Desconfiar do futuro separado e confiar no futuro juntos. Hoje desconfio de mim. Desconfio dos sentimentos, da falta deles. Desconfio das minhas certezas, das minhas dúvidas e incredulidades. Desconfio que esqueço das coisas por medo de lembrar e não querer reviver. Desconfio do passado que não ensinou nada, desconfio de um presente sem medo e de um futuro já planejado. Desconfio de quem lê Manuel Bandeira e não sente a dor, de quem lê Carpinejar e não tem um verso favorito. Desconfio de quem lê a Bíblia e desconfia que não é verdade. A única verdade absoluta é o amor, e Deus é amor. Desconfio de quem sabe fazer muitas contas, desconfio de quem não faz conta além do que recebe. É muito controle para um só ser. Deve ser assim no amor também, controlado. Desconfio de quem escreve e não relê seu texto, parece que foi por obrigação. Desconfio de texto sem nenhum erro, parece que foi sem amor. Desconfio de quem já decorou as novas regras ortográficas, também desconfio de quem não está nem aí pra elas, deve não dar valor às palavras. Desconfio de quem nunca comprou um livro, não deseja ter palavras só suas. Desconfio de quem não gosta de música deve ter uma que fez sofrer demais. Desconfio só para me contradizer e confiar depois. De qualquer forma quando saio sempre levo um casaco. Não se pode confiar no tempo aqui. Luana Gabriela 2009

- depende de quem diz -

[ ...se eu tivesse você do meu lado eu jamais seria triste...] (Alguém que não é você) Quem nunca brigou consigo mesmo por amar alguém que não deveria, enquanto há alguém que te ama com tudo que pode? Quem nunca chorou ao ouvir declarações de amor que não vinham de quem gostaria que viessem? Quem nunca passou por isso? Eu não mereço esse amor, eu não posso retribuí-lo. É algo tão novo, que eu não esperava. Eu não posso estar ao seu lado, na verdade eu nem ao menos quero. E isso é o que me dói. Fazer você passar pelo que passo e isso eu não desejo a ninguém. Não sei se me desculpo, se me distancio, não sei. Sei que não posso nem tentar, tentar amar alguém só porque este alguém te ama é começar algo com data marcada para terminar. Em algum momento a tentativa, virará esmola dos sentimentos. Vai virar migalhas de atenção. Aguentar cobranças de quem se ama já é complicado imagina de quem não se ama? Suportar certos defeitos de quem amamos já é difícil, imagina de quem não amamos. Cada palavra errada seria o fim. Cada atraso, cada erro seria elavado a uma potência máxima. Mas isso não é o pior. Cada ato de carinho e afeto será encarado como normal, afinal é ele que me ama, não eu. E isso é o pior, reduzir o esforço do outro a um ato de obrigação. Cada esforço do outro para te conquistar e te fazer esquecer quem ocupa sua mente e seu coração, será em vão. Não se pode ocupar um espaço que não está vago. Não se pode roubar um amor que já tem dono. Não há como amar por piedade e para tentar ser feliz. E agora eu não sei... se me distancio, se me desculpo. Luana Gabriela 19/05/2009

- apenas bons amigos -

"Só de me encontrarEm seu olharJá muda tudoPosso respirar você Foi o seu olharO que me encantouQuero um pouco maisDesse seu amorE como quem não quer nadaVocê vem"(Seu Jorge)- Te liguei só pra dar Bom dia.- Te escrevi pra comentar aquele dia.- Te amei porque já não tive escolha.Assim como quem não quer nada, ele chega e desarruma a minha casa, meu coração. Veio pra descumprir as regras, e amar, amar e amar. Sem o medo do fim, sem o medo do início. Se começar que bom, se terminar antes disso, que bom. Que bom é isso, amar e fingir que não é nada. Tentar acordar e não pensar nele, tentar ir dormir sem pensar nele. Tentar almoçar, escrever, tocar sem pensar nele. Que bom é isso de conseguir disfarçar para todos, menos pra ele. Que bom é isso. Ouvir uma frase que denuncia o ciúme. Poder tocá-lo e receber no outro dia o mesmo toque. Que bom é isso, confundir o que é amigo e o que amante. Que bom é isso, de ser distraído. Se há alguém que confunde tudo sou eu. Se há alguém que ama minha confusão é ele. Que bom! Eu prometo que hoje eu não falo mais do que passou, e você vai ver que dos outros já nada restou. E eu não vou mais expressar o meu ciúme, vou deixar isso pra você. E hoje faz um ano e cinco meses e hoje é só mais um dia que eu te queria e você sabe, sempre há um jeito de comemorar o que não se viveu, e você sabe poderia ter sido ontem. Que bom isso, de não precisar mudar nunca, de eu não precisar esperar. Que bom é você. Sempre me dizendo coisas sem dizer, pra só depois me cobrar que não entendi. Que bom é isso. Me perguntar onde fui, com quem estava e eu respondo só pra poder te perguntar: e você ficou em casa? Eu não. Que bom é não morrer de raiva quando ouço isso. Que bom é amar, amar e sermos só amigos. Luana Gabriela 19/05/2009

- foi de brincadeira que me apaixonei -

"Sem querer eu olhei em seus olhos Sem saber segurei suas mãos E começou assim Um longo silêncio entre nós A sua presença calou minha voz Tanta coisa eu tinha guardado pra lhe dizer Mas não disse nada" (liricass.blogspot.com) O que era amor um dia tornou-se dor. O que trazia vontade de viver ficou guardado até que ele voltasse, sem ele acordar não teria graça. Sem o telefone tocando, para dar um bom dia. Sem o telefone chamando, para desejar bons sonhos. Os dias e as noites então se confundiam. Enquanto ele não voltasse não valeria a pena acordar. Sem que o amor voltasse não teria graça viver. E o que era dor um dia voltou a ser amor. E percebeu-se que ele nunca havia partido, estava dormindo, descansando, e pensando em como voltar de vez. Ele acordava cada vez que eu te via. Cada vez que eu te ouvia, cada sorriso seu que eu recebia. Ele estava ali. Eu insisto em te tocar, guardar a textura da sua pele na ponto dos meus dedos, guardar o sussurro da sua voz em meus ouvidos, guardar você em cada sentido meu. Posso sentir seu perfume estando longe de ti a 245 quilômetros. Essa distância nunca mais será a mesma, cada vez que você vai ela parece aumentar, e tudo fica mais distante, e você leva sempre um pouco de mim. Mas eu sei que no final ele sempre volta. Acho que talvez nossa situação tenha se invertido, e você me surprendeu ontem. E você tem me surpreendido todos os dias e eu acho que me apaixono mais por você a cada nova surpresa. Mas na verdade isso pode não significar nada, vai depender de nós. Se daqui pra frente vamos permancer, olhos nos olhos, mãos dadas e um longo silêncio entre nós. Às vezes eu sinto que já não temos mais nada para dizer, tudo já foi dito, revelado, decidido, tudo menos o fim. Luana Gabriela 19/05/2009

A vida é brega

A vida é brega, usa listras e xadrez , bolinhas coloridas e uma havaiannas.Não sabe combinar.Ela usa o que quer, e quando quer usar. Isso quando não decide ficar de pijamas, por uma semana ou mais.Se precisasse tomar banho sofreríamos todos ela não gosta de ser lavada e ser passada a limpo, ou a seco.Usa e abusa do descaso com a moda. O amor nunca sai de moda. O amor é retrô e démodé.Quem liga pra ele?Ela não liga. Aliás ela nunca liga. Segue a linha do ser difícil, e é mesmo.A vida é difícil.Ainda mais quando você tentar fazer com que ela vista algo decente e pare de experimentar tendências. Ela não entende. Parece criança fazendo birra, e haja paciência.Uma vida brega. Sem amor nas passarelas. Uma vida difícil que não quer usar o vestido bege , sem renda que a mãe escolheu.Ela quer usar o tênis desbotado, de 20 anos atrás. Mal sabe ela que o tênis está na moda de novo. Vida desavisada.Não reparou que xadrez, listras e bolinhas voltaram à cena da moda, nem reparou que hoje cada um veste o que quer e ela não é a única a não saber combinar.A vida é assim, bagunçada,um dia veste preto outro dia o brilho do prata. Ela não sabe de nada e nem quer saber. Pra ela lhe basta viver.Tem os pés numa sandália de borracha e acha que por isso eles estão no chão. Vida desavisada , o chão é duro e não de borracha. Luana Gabriela 08/08/08

- um baú de modernidades -

Um baú de modernidadesEu pego o seu "ficar" e tranco no baúPego seu vans e fecho juntoPego seu ipod, e tudo mais para esconderEu tiro da estante recheada de cd´so cartão enviado com flores, mas não por vocêTiro o all star, e vistoVisto tudo velho,E o que ficou é como se não fosse maisUma vida de antiguidades e uma baú de modernidadesNada novo, tudo velhoE o velho não se renova, nem se reinventa é bem convicto de sua históriaDeixe a modernidade para os novos, e eu ex-moderno sou velhoO velho da calça xadrez com preto, do grunge dos anos 90Sem calças skinny´sDo all star, ex-símbolo de rock´n roll , que hoje calça os pés das patricinhasCoitado, mal sabia que seu destino é ser vestido com meias coloridas e blusas cor de rosinhaMuito distante de sua realidade ....Eu tiro do baú suas modernidades vendidas em sites e revivo a modernidade anti-consumismo da vida de ontemEu coloco suas modernidades no meu baú de antiguidades!E fico com tudo que é velhoE tão novo em minha memória .... Luana Gabriela 19/09/2008

um amor de futebol

É como um torcedor corinthiano na torcida rival. Ama, mas não pode falar. Está em campo inimigo. Rodeado de pessoas do time oposto, entende? Sabe que se o timão fizer gol, deverá calar o grito (duvido que consiga), e a declaração de amor.Amar é estar sempre na torcida adversária. Primeiro porque alguns fazem disso um jogo. Onde há defesa e ataque. Segundo porque há risco de sair gol, de ficar em zero a zero, de dar zebra. Não há certezas. Diriam os comentaristas – Futebol é uma caixinha de surpresas-Diria o poeta – O amor esquece de começar .E quem disse que há lembranças do início da rivalidade Corinthians e Palmeiras? Flamengo e Fluminense, Internacional e Grêmio?Me lembro de um jogo da Taça Libertadores, Corinthians e Palmeiras, decidido nos pênaltis. A luz acabou onde eu estava, de pronto dei um jeito de continuar acompanhando, pelo telefone, da tv de um familiar. Amar é isso, não se admite perder, quer acompanhar tudo, até o momento em que o juiz apita. Fim de Jogo.O Corinthians perdeu, valia vaga na semi final, ou na final do campeonato.No fim da partida, muito choro preto e branco, dor imensa, que parece sem fim.Amar é não aceitar o fim da partida, a derrota. Se chora com o fim.Dor que desapareceu com a conquista de outros campeonatos.Amar é assim, esquecer de toda a dor depois de outra conquista. Luana Gabriela 02/10/2008

confesso

Está bem. É hora de admitir perder o controle. Saber porque começou a amar e fingir que não sabe.Aliás fingir que não quer.Se apaixonar assim, quase a primeira vista. É como escrever um texto reler e não ter nada para corrigir. Impossível.Ainda lembra da primeira vez que viu. Era diferente, chamou sua atenção. Apesar do coração batendo forte, decidiu esquecer não se veriam mais.245 quilômetros.Pouco assunto em comum, e para isso teve de perder o que mais amava. O companheiro de noites em claro. Desafinado.Trocas de números, telefones, mensagens curtas pela rede.A distância era maior. Tanto que seu lugar fora ocupado por um outro alguém.Lembra da segunda vez.Sentados juntos, uma pequena conversa.Não imaginava assim, a terceira vez tão logo. E tão presente.Um amor adolescente. Que espera. Que acredita.Que não sabe de onde vem, que não procura explicações e cede as imposições, simplesmente para amar. A partida não tem data definida, mas é certa.Há promessa de uma quarta volta.Mas não quer viver de promessas.Quer viver de certezas.Promete esperar. Se for certo que virá.Não esperava querer, como não espera o amor.Amor é nunca esperar, por estar sempre chegando.São 245 quilômetros, ligados por um amor.O amor é a ponte, sem início nem fim.Dá insegurança quando se está passando. Luana Gabriela 03/11/2008

o melhor da vida não se explica

Não sei explicar.Como tudo começou, onde e porque.O que importa é que me deixei levar pelas palavras não ditas, pelos olhares em busca de mim.Não, eu é que te buscava.Fazia tempo, mas não sabia que era você.Amar é desacreditar da realidade.Mesmo que ainda não seja amor, o que se julga é o que vale.Poderia negar, estava negando. Mas quando recebo elogios seguidos de como estou bem e mais bonito brinco, “é o amor”.Não é mais brincadeira, é verdade.Como ainda não tinha me dado conta?São coisas que não sei explicar.Não sei explicar porque insisto em te esperar.Porque busco sua foto.Porque mesmo sabendo que não farás, espero por tua iniciativa.Se não é amor, não sei explicar.Então deve ser algo parecido. Sem nome, mas posso batizá-lo com o seu.Aliás, desde então seu nome é o nome de todo mundo.Todos se chamam, você.Todos se parecem com você.Não há outro você. Não para mim. Para mim, aliás não há mais nada.Desde daquele dia, que eu ainda posso descrever.Cheguei ao ponto de negar, negar a mim mesmo, e confessar que sei que vai passar.A chuva passa, o verão, as dores, mas você, você não.Você permanece. Como quem sabe que se passar, leva tudo e estraga o mundo.Eu ocupo a mente com qualquer outra coisa,Mas qualquer outra coisa ainda não é você.O jornal não é você. Nem o cd. Nem o livro.Nada é você, mas tudo me lembra você. Sua cidade nas manchetes do dia, a música que você disse que curtia, o livro com a frase que me resumia.Eu não sei explicar. Não posso resumir.Mas nenhuma palavra, nem no dicionário inteiro, há que possa explicar.Amar é não saber explicar.Na verdade, amar é nem tentar. Luana Gabriela 10/11/2008

por onde eu ando

E assim eu levo a vida.Como quem dela não leva nada.Nem o chapéu, nem a carteira, nem a calçada.Daqui só sei que levo eu mesmo.E tudo que sinto sei que não levo nada.Nem o amor, nem a dor, nem a piada. Levando-se vai a vida, como Deus quer. Diria o vizinho ao te encontrar.O amigo desanimado diz que vai indo. Mas nem sabe para onde.Apenas,Vai. Vai como quem espera chegar ao paraíso de lugar nenhum, não sabe escolher seus caminhosVai. Mas não sabe o que encontrará pelo percurso, será amor ou estará sozinho?Antes só que mal acompanhado. Diz o velho ditado.Antes mal acompanho que amargurado, diz o velho mal casado. Quem está com a razão?O amor não tem razão. Nem raiz quadrada, nem matriz. O amor não é lógico.Não tem fórmula de báscara, matriz, ou regra de três que possa resolver um problema de amor. É muito mais a área da química, da história, da literatura. Amar é estar perdido por escolha.É andar descalço nas pedras, com a sola do pé ferida e ainda assim esconder a dor e sorrir.É ter a opção de calçar sandálias e ir descalço, só para sentir-se mais.Nunca sei porque caminhos o amor me leva.Mas são de pedra, e eu estou descalça, pura opção de quem sabe que amar nunca é em vão. Luana Gabriela da Silva. 19/11/2008

- é o fim -

Não ache que para mim será o fim do mundo.Fim do mundo é ter medo de tentar.Fim do mundo é ter conhecimento da redenção e não escolhê-la mesmo assim.Fim.Fim só ocorre para o que teve um começo.E quando se pode afirmar que começou um amor?Já disse o gaúcho que o amor esquece de começar.Você pode até achar que foi naquele olhar, no dia que se viram pela terceira vez. Já que nunca acreditou em amor a primeira vista.Você pode até acreditar que foi pelo que ele disse, pelo que fez.O certo é que nunca, jamais, poderá definir o momento exato.Porque se vocês se viram é porque queriam, e não queremos ver gente que não gostamos.Era uma predisposição a amar.Mas predisposição não é amar.Tudo bem, não é. Mas pode ser o início, não?Assim como não estar mais disposto a amar é decretar o fim.Posso decretar o fim do que pra você nem começou?Pode você dar início novo ao que pra mim está consumado como fato que passou?Podes. Podes tudo. Podes me deixar ligar. Podes me deixar a sós. Podes me deixar em dúvidas. Posto que nem sei ao certo o que saber a respeito de ti.O fim vem com o começo, é como as promoções “leve três pague dois”, do supermercado. Comece um amor e leve o fim. Aí pode ser o fim da solidão ou o início verdadeiro dela. Porque estar só, estando contigo, é muito pior.E para mim é o fim.Fim da esperança de um começo.Da esperança de um final feliz.É um fim. Luana Gabriela 21/11/2008

sob nova direção

É assim. Como um restaurante que foi à falência e reabrirá sob a direção de um novo dono.Assim é que ela sente toda vez em que achou que daria certo, que poderia enfim lançar-se sem medo ao amor que ela sabe, jamais poderá sentir novamente. Ou pelo menos, não como da primeira vez, nem como da segunda...Cada nova abertura, a leva a se fechar mais.Menos entrega, menos impostos, menos dor, menos fé. Amar é perder a fé em si mesmo e depositá-la no outro. Claro engano de quem ama, é este.Acreditar ser feliz só com ele do lado. Os dias só têm graça quando se falam, isso não é amor. Pode ainda não ter nome, mas não é amor.Amar é como abrir uma empresa, com todas as burocracias. Demora-se tempo para ligar, para parecer difícil. Não aceita-se todos os convite para sair, para parecer difícil. Não declara-se assim, logo, o que sente, simplesmente para parecer difícil.Amar é não declara-se em palavras, não em palavras audíveis. Cada olhar é uma declaração.Cada vez que liga e pergunta como está antes mesmo de dar oi está dizendo “Senti sua falta hoje. Nos falamos tão pouco”. Esqueceu-se que ficaram o dia todo a se falar, por mensagens, pela internet.... Quem ama não tem mais noção de medidas pouco e muito.Muito é o segundo que ficamos longe, poucas todas as horas que nos falamos.Amar depois de uma decepção é reabrir o restaurante sob uma nova direção. São novosos pratos, o cardápio, o menu. Os amargos dos temperos de antes foram esquecidos e se pode degustar tudo com um sabor de novidade. Pois se tem um novo dono.Para ela não é assim. Pode reabrir o restaurante, mudar o gerente, que tudo permanece igual. Seu coração abriu falência. Deve ser a crise, não a financeira. Mas a crise que tem permeado os relacionamentos e sentimentos humanos. Desde que decidiu fechar, sabe que não tem data certa para reabrir e já mandou confeccionar a faixa “Reabriremos em breve sob nova direção”. Pode nunca usá-la, mas não será por falta de acreditar. Luana Gabriela 28/11/2008

- um tempo comigo -

Hoje eu queria um tempo a sós.Sozinha mesmo, sem meus próprios pensamentos.Que insistem em me lembrar de ti.Um tempo para dormir e não sonhar contigo.Um tempo para dormir e não acordar no meio da noite (sua imagem é sempre a primeira coisa que me vem à mente)Só por hoje, eu quero um tempo a sós.Não que eu não ame, que eu não queria.E talvez seja exatamente porque eu amo e quero tanto.O tempo pode me ajudar a entender tudo que se passa longe de você.Porque eu esqueci de como tudo era sem você.E hoje, eu quero ficar só. Sem meus pensamentos, sem minhas memórias de ti.De tudo que já vivemos e tudo que vivi somente em pensamento.Só por hoje, eu não queria encher-me de expectativas a respeito do amor e deixá-lo passar por mim, assim como quem passa e finge que não vê.Mas não. Hoje, justo hoje, ele decidiu esbarra-me em cada esquina.A despeito de tudo chama-me pelo nome, e tem o seu sorriso.O amor é surdo. Não me ouviu dizer que vá embora. Que só por hoje me deixe só, que volte a manhã. E aí estarei pronta.Amar é não estar pronta.O momento certo para encontrar você é justamente quando estou com o cabelo desarrumado, o tênis antigo, a roupa de ficar em casa. É quando sou eu, do modo como me verá todos os dias, desde que me aceite exatamente assim.Amar é aceitar o outro na sua pior forma, assim como Jesus fez conosco. Amou-nos e nos aceitou enquanto éramos somente sujeira e pecado. Isso é amor.Hoje eu queria vestir minha roupa de casa.Hoje eu queria ficar só, sem meus pensamentos.Para finalmente te encontrar, amor. Luana Gabriela 02/12/2008

[ de amor não se morre? ]

Já ouvi dizer que de amor não se morre.Pode-se até não morrer, mas isto é um mau que sucumbe.Vai assim,levando embora os risos, as graças, até levar tudo que alguém um dia possuiu.Um amor que não deu certo pode levar embora a casa, o carro, os filhos.Mesmo quando ainda não havia a casa, o carro e os filhos.Levou-se embora a esperança de um dia tê-los.Sim, porque quem ama, esquece que já amou outras vezes e que assim também acabou para vir um novo amor.É um ciclo. Por vezes repetitivo e cansativo.Certo é que o amor quando acaba, leva embora tudo, mas deixa algo.A dor de quem ainda amava e foi deixado.A dor é a única que não o deixa, o resto mais, já o abandonou.Aliás ele mesmo se abandona. Larga-se no sofá da sala, e não se move a não ser para lembrar os passos que deram juntos, e por onde já passaram, construindo sonhos.O fim de um amor é triste. Mas ainda há algo pior.É o fim de um amor que ainda não havia começado.Era tudo tão incerto, que não se pode dizer que houve algo.Foram palavras, ações, mas prefere-se ignorar os fatos.Fatos são bons apenas quando dados a ilustrar matérias de jornais e não poesias.Tornou-se especialista em términos de relacionamentos sem início.Não se permitiram tentar, crescer, paga pra ver.O amor não combina somente com um sentimento, o medo.Podem não ter o mesmo amor, mas tanto quanto quem não quis começar quanto quem terminou antes do começo, sente algo em comum, o medo.O medo de não dar certo e o medo de dar.Medo da maneira rápida como tudo se deu e medo da demora que poderia durar.Agora já não importa mais.Se o único medo que restou é o medo de ainda desejar ter a casa, o carro, os filhos.Se ainda há esperança de tê-los, calcula-se então que não era amor.Mas, como já disse, o amor não é feito de cálculos, não é lógico.Pois bem, os fatos ilustram matérias e o amor teve fim. Luana Gabriela03/12/2008

[ apesar ...]

Apesar de ser mais novo, apesar da idade registrada na peleApesar de tudo...Amar é estar ciente do apesar e gostar mesmo assim. Amar é ver os defeitos e amá-los por que fazem parte de ti.Hoje eu não quero me prender em tuas qualidades. Em sua voz quando canta, em suas mãos quando tocam, ou em seus olhos quando me olham.Só por hoje o que eu quero é me prender em teus defeitos para nunca mais esquecê-los. Nunca esquecer a palavra dita da forma errada, a idade, o cabelo bagunçado, só por hoje quero te amar por teus defeitos, porque pelas qualidades já deve haver quem ame.Recordar cada momento é como viver novamente. E lembrar o dia em que nos conhecemos é como voltar ao início para novamente te conhecer. Te olhar de longe e desejar saber quem és e porque estás ali. É desejar nunca mais estar distante, exatamente como acontece agora.Apesar do medo eu insisto. Insisto em esperar, porque sei que apesar da distância cada um de nós tem um pouco do outro... ao menos uma lembrança. Apesar de ser impossível lembrar daquilo que nunca nos esquecemos.Eu nem sei mais em que momento consegui ver assim tão claro seus defeitos... e apesar deles olhar para você e dizer que eu o quero mesmo assim, apesar de tudo. Luana Gabriela 22/12/2008

[ deixe-me te dizer antes que o ônibus parta ]

Pare um momento. Deixe pra lá todos os que te cercam, os que te chamam e apenas me ouça dizer. Talvez você não precise ouvir, mas já não posso mais guardar tanto em tão pouco do que sobrou de mim. Ouça isso.Já faz um ano, que você levou embora um pedaço de mim. Não contente voltou, durante estes doze meses, para buscar um pouco mais. Inicialmente levou a extensão de minhas mãos, grudadas no violão. Depois voltou para buscar meus ouvidos, e agora levou embora meus olhos. Tens tudo contigo, deixou-me apenas meu coração.Este sinto dizer, ainda está comigo, mas tem guardado seus olhos, sua voz, suas mãos, seu cheiro. Dizem que a memória é guardada no cérebro, cientificamente preciso concordar, se não é capaz que digam que estou louca. Mas a minha memória, as lembranças de ti, guardo no coração, porque a razão já deixou-me faz tempo.Em cada novo encontro fixava em mim tudo que podia reter de ti. Seu perfume, seu sorriso tímido, sua risada nada tímida, seu jeito de falar, cantar, tocar, me olhar... Guardei tudo.Agora, espero sua volta e sua atitude. Deves ter contigo um plano para roubar também meu coração. Preciso confessar. Já deixei a porta aberta. Nesta semana derrubei o muro de proteção.Estás com o caminho livre. Luana Gabriela 29/12/2008

- não há amor sem defeitos -

Há dias me pediu para listar tuas qualidades. Fiz. Identificou-se. Mas talvez não tenha reparado, o que tenho feito constantemente é listar teus defeitos. Não me importo que ainda não te tenha dado conta, eu mesma só há pouco percebi. Tenho escrito sempre sobre o que seriam suas imperfeições para mim. Pode entender o que isso significa? Que posso não ter percebido, mas apaixonei-me por teus defeitos. O sorrisSo largo, a simpatia, o perfume e a muscalidade inerente à sua personalidade não foram suficientes para me conquistar. SI assim fosse terias muitos concorrentes. Assim sendo, me apaixonei pela tua timidez, pelos olhos baixos que não conseguem me encarar por muitos segundos. Me apaixonei pela timidez de tuas mãos, inseguras ao me segurar. Me apaixonei pelos teus defeitos. Antes de ti frequentemente listava os defeitos dos outros justamente para não me apaixonar. A meses atrás dava certo, tá? Mas contigo é diferente. Cada vez que escrevo sobre teus defeitos fico ainda mais certa do que sinto. Nunca listei teus defeitos para desapaixonar-me, eu já sabia que não daria certo dessa vez. Você é para mim o amor tímido, inseguro, adolescente, que espera ser amado sem saber que o és, por completo, mesmo sendo imperfeito. Obs: Perdoe-me, querido, os erros de português, é que também não sou perfeita. "Hoje eu preciso dizer que te amo. Antes que seja tarde."

- neologismos -

Amor é um neologismo dos sentimentos. Algo que alguém inventou com base em outros. Assim como "xerocopiar" é neologismo de xerox. Amar é neologismo de paixão, sofrer, alegria, empolgação, tudo junto assim, ousou-se chamar de amor. Sinto muito pela palavra. Nascer com base em outra é ter paternidade reconhecida no idioma e no coração. Quase como não poder mais desvencilhar-se da origem. É senso comum. Você sabe que está amando por que pensa o tempo todo nele. Você sabe que está amando porque sofre a falta, o ciúme, a indecisão, a espera. Você sabe que está amando porque sente alegria com o fim da falta, em imaginar o fim da espera. Você sabe que está amando quando inventa palavras para descrever o que sente - tipo o desapaixonar usado no texto abaixo. Se não for assim, diz o radical, não é amor. Amar é ser um neologismo no mundo. Inventar uma nova pessoa. Inventar-se novamente. Mas não é de própósito que mudamos, nem é para agradar o outro, é simplesmente porque se consegue ser o que sempre quis só ao lado dele. Amar é um fato que se transforma em texto poético, cheio de neologismos de fatos criados a partir de outros, de palavras inventadas, de um amor inventado. Amor, desculpe -me, não sou assim tão criativa. Baseio meus textos no que sinto. No que vivo. De fato sou jornalista, não linguísta, e sou ainda um pseudopoeta. Linguístas não vivem só de palavras. Assim como jornalistas não vivem só de fatos. E os poetas não vivem só de amor. Luana Gabriela 13/01/2009
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