- Pedro Mariano; Simplesmente -

Simplesmente posso esperar, aqui por você Uma eternidade, uma tarde inteira! Simplesmente posso encontrar, qualquer distração Ruas da cidade, restos de uma feira... Tomo um atalho, só pra te perder... enquanto olho os aviões Nada tremeu no ar, não vi nenhum sinal Mesmo assim posso esperar! Simplesmente posso esquecer, da guerra ou da paz... Uma eternidade, uma tarde inteira! Calmamente posso contar, as nuvens do céu Rostos na vidraça, flores dessa praça... Desço a Consolação só pra coincidir, leio manchetes por aí... Nada tremeu no ar, não vi nenhum sinal Mesmo assim posso esperar! Até deixar um recado na tarde Um simples saudade! Que você vai sentir... Quando sentar-se a mesa, uma simples certeza Que agora é você quem espera por mim!

- o perfeito amor lança fora todo medo -

- Peço tanto a Deus para esquecer mas só de pedir me lembro - Queria tanto saber como sair dessa situação - esperando um sim ou um nunca mais - e deixar as decisões em tuas mãos, não me parece muito certo. Não me parece correto esperar por ti, sem nenhuma garantia. Sem saber direito o que sinto. Sem saber direito o que é tudo isso. E o porque... o porque de você ter aparecido, foi tudo em vão então? Chegou para ser apenas mais um na confusão, ao invés de me tirar dela. - Apenas mais um - era tudo que eu não queria que você fosse. Queria que fosse o único, aqui dentro do meu coração - queria que você quisesse isso também. Mesmo que talvez nunca façamos nada para merecer este amor. Não há razão pra estas dúvidas e pra todas as coisas que já te escrevi e tantas outras que eu apenas senti. Um medo de ter te perdido sem que você tenha um dia sido "meu". E onde eu guardo todas as lágrimas que segurei pela dor de ver o medo vencendo o amor? E agora o que vamos fazer, eu também não sei. Afinal será que amar é mesmo tudo? Se isso não é amor, o que mais pode ser?

- v.o.c.ê -

Eu pensei em escrever alguns poemas
Só pra tocar seu coração
Eu sei, uma pitada de romance é bom
Meu bem, eu tô pedindo a sua mão
Prometo sempre ser o seu abrigo
Na dor o sofrimento é dividido
Lhe juro ser fiel ao nosso encontro
Na alegria, felicidade vem em dobro
Isabella Taviani - Diga Sim pra Mim

- O amor não é expresso -

Eu tomo café frio. Acho que deixo o café esfriar de propósito. Pelo esforço de tomá-lo. Há uma cota de sacrifício em cada gesto irrelevante. Pego o café antes da cafeteira terminar de cuspir água. Queimo as mãos nas bordas, o caule da porcelana está boiando na fumaça. Momento perfeito para empunhar a xícara e degustar o charme do gole soprado. Ao invés disso, vou fazer novas tarefas. E o primeiro sorvo vem morno. Sou ansioso para me adiar. Não adotei o pingado, lamento minha deserção. É delirante o dom de misturar certinho o volume, definir o que vai por cima. Uma autoridade maior do que enumerar as colherinhas do açúcar. O amor não é expresso, é café-com-leite. Meio a meio, pouco a meio. Alguns preferem o leite; outros, o café. Por isso, combinam os dois. Não sei se me faço entender: eu gostaria mais do café se viesse acompanhado do leite que não gosto. Ninguém ama por inteiro. Eu amo e sou amado por fragmentos. No início da paixão, mostramos a região predileta: os dons e os dotes. Nossa parte benigna. Fácil decorar e pôr em prática. É mais simples falar eu te amo quando não se ama. Quando vou falar eu te amo amando, o som não é natural. A boca pesa, a mão lateja, acredita-se em toda vogal. Nossa vida vai junto com os lábios de inverno. Entendo agora: uma verdade que não se cansa é mentira. Portanto, amo de verdade e amo de mentira, para não deixar nada sem amar. Não amo por inteiro. Amo por fases. Por dias. Por horas. Há incomodações, ódios e resmungos nos intervalos. Nivelar o amor é aniquilá-lo. É não admitir que a mulher não é o que espero, nem o que ela espera. E passar a desconfiar que não amo por aquilo que não preciso mesmo amar. Procuro no amor a cegueira da paixão e os olhos já estão abertos nos dedos. Amar é suportar também não amar quem mais se ama. Lidar com o que nos irrita e não explodir. Dar a trégua para a paciência virar confiança. Não se sentir perseguido na hora da crítica. Não cortar a fala pelo passado. Não ameaçar com o fim, não interromper com chantagens, não sobrepor dissidências com suspeitas. Permitir que o rio mergulhe seus pés em nosso corpo. O que julgava ser uma virtude - minha disposição em ajudar - pode ser compreendida como arrogância. Como se fosse cobrar um favor mais adiante. Ajuda só é ajuda no instante em que ela é esquecida. Tenho que ser suficientemente discreto para não voltar ao assunto. Nunca mais. Meus avós maternos tomavam café-com-leite. Tão diferentes ao dormir, tão iguais ao acordar. O avô ainda separava abacates de seu quintal para a vitamina da tarde. Explicava, orgulhoso com o sotaque de cozinha: "o abacate é uma das raras frutas que amadurecem fora do pé". Depende de uma semana longe da árvore. Como o amor. Inclusive quando não se ama.
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