- sem mais palavras - o que é o amor pra você?

"O Amor...
É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas, os vencedores no amor são os fortes.
Os que sabem o que querem e querem o que têm!
Sonhar um sonho a dois,
e nunca desistir da busca de ser feliz,
é para poucos!!"


Cecília Meireles
Eu não sei por que a amo. Cada vez mais não sei. Pode ser pelo seu pescoço que se levanta para ganhar altura quando estamos abraçados. Ou será que é pela forma em que dobra as pernas no sofá? Eu não sei por que a amo. Será pela sua disposição de dar a volta por cima? Eu já parei para pensar por que a amo, mas lamento, não sei. Realmente não sei. Talvez seja pelas sobrancelhas que falam antes dos olhos. Ou pelo copo que você balança antes de beber, para convencer a água a partir? Tantos homens têm um motivo certo para amar, definido como um emprego, e você foi escolher logo um que nada tem a dizer. Será que é pelo amor aos filhos, excessivo, que sempre me inclui? Ou pela sua vontade de fazer mercado depois do almoço para gastar menos? Será que é pelo modo como canta, o modo como dança, com os braços acenando em linhas sinuosas como fumaça de chá? Será que é pelo toque em meu joelho enquanto dirijo? Ou pelas nossas saídas de madrugada para encontrar sorvete em botecos? Será que me apaixonei pelo seu texto e quis ser seu personagem? Ou pela sua pressa de avisar que chegou, apertando o interfone mesmo com as chaves? Ou quando diz que está com frio no cinema? Ou quando fica muda querendo voltar ou quando fica ruidosa querendo passear? Ou quando me enfrenta com raiva e me diz todas as verdades sem ao menos pedir para sentar? Ou quando sopra os machucados, de quem herdou o costume de soprar machucados mesmo quando não existem? Será que é pela sua predileção em comprar presentes, sempre dando mais do que recebendo? Ou pela tapeçaria no fundo de suas bolsas, com notas, moedas, chicletes, batons e brincos avulsos? Será que a amo por que me irrita a viver mais? Será que a amo por que não me deixa a sós comigo? Eu juro que não sei por que a amo. Todo dia você se acorda querendo ouvir, eu pressinto, debruçada em meus ombros à espera do sinal, do cartão, das flores, da segunda aliança que é um par de palavras. Mas não descobri e não finjo. Entenderá que faltam motivos, só que sobram motivos. E dificulta-me pensar que se ama por motivos. Ama-se por insinuações. Será que é pelo seu medo de sangue? Pela sua infância vesga? Pelos seus joelhos esfolados nos móveis? Pela seus amores frustrados? Pela sua letra arredondada nas vogais? Pela sua insatisfação com as roupas na hora de sair? Pela ânsia em atender o telefone com a esperança de que seja eu a dizer por que a amo? Eu não sei por que a amo. Não me fale. Quem sabe deixou de amar.



Ps: não precisa me dizer porque me ama, nunca vou te perguntar. Diga somente o que sente e eu vou me esforçar para te dar muitos motivos para ser feliz comigo.

- verdade absoluta -

Você muda o cabelo, o comprimento, a cor, para não deixar pistas de quem mexeu, de quem ainda mexe nele em segredo cada vez que respira fundo. Ele não se despediu verdadeiramente. Ou será que você não insistiu? A dúvida não diz sim nem não, como se não houvesse palavras para derrubar a vontade da boca. Ficou assim, o dito pelo não-dito, o incerto, o indefinido. Ambos não foram legíveis, foram confusos. A separação confunde. Você percebe que o cabelo não é suficiente. Depois do primeiro dia, ainda depende do seu amor. Aliás, depende ainda mais forte dele. Pois agora quer mostrar o cabelo novo.

Você pinta as unhas, o escândalo do roxo. Ao tomar café, recobra que ele escolhia o pingado, pensa nele antes de seu pedido, pede pela primeira vez com leite ...

Você apagou o telefone dele do celular. Apagou o nome dele da caixa de mensagens. Está se desacostumando a ele, não recorda precisamente os diálogos. Vão desvanecendo como papel de fax. Bate o terror de ser apenas mais um caso. Não tem como dominar o jeito que ele a guardará, a forma como a guardará. Descobre que seu maior receio é não ser lembrada. Como está o esquecendo, ele também pode estar a esquecendo. Liga para ele, deixa tocar quatro vezes, ele não atende. Fica com raiva, raiva de não ser atendida. Ou raiva da fraqueza de telefonar. A dúvida volta. Nunca se termina aquilo que se deseja.

Crê verdadeiramente que, mudando por fora, encontrará o atalho para mudar por dentro. Não a ensinaram a se despedir. Os homens morreram em sua vida e não foram enterrados. Desiste de mudar quando toca seu telefone. Deixa tocar quatro vezes e não atende. Você e ele desaprenderam a falar.

Fabício Carpinejar


PS: mudei o cabelo, mudei o guarda-roupa, o perfume ... mas o que sinto não muda! É vontade de amar ... !
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